quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO.

Nascido em 1911 na cidade de Japaratuba, em Sergipe, Arthur Bispo do Rosário mudou-se em 1925 para o Rio de Janeiro, alistando-se na Escola de Aprendizes de Marinha. Durante oito anos foi, além de marinheiro, pugilista.
Em 1933 foi admitido pela Light, como lavador de bondes e borracheiro. Um acidente de trabalho o levou a mover uma ação judicial contra a empresa, estabelecendo contato com o advogado Humberto Leone, que acabou contratando os seus serviços: realizou todo tipo de trabalho doméstico em sua residência, em troca de comida e moradia.
A vida deste descendente de escravos tomaria outros rumos quando, numa noite quente de 22 de dezembro de 1938, o mesmo despertou com alucinações que o conduziram ao patrão, o advogado, para o qual disse que iria se apresentar na Igreja da Candelária.
Depois de peregrinar pela rua Primeiro de Março e por várias igrejas do Distrito Federal aquela época “acabou no Mosteiro de São Bento, anunciando a uma confraria de padres que era um enviado, encarregado de ‘julgar os vivos e os mortos’.
Dois dias depois foi preso pela polícia e conduzido ao hospício da Praia Vermelha, o Pedro II, (primeiro asilo oficial do Brasil inaugurado em 1852) que anos antes já havia sido local de estadia do escritor mulato Lima Barreto (1881-1922). Os rótulos em relação a Bispo naquela instituição fornecem uma noção dos preconceitos vigentes na época: negro, sem documentos, indigente.
Um mês depois foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, localizado no subúrbio de Jacarepaguá, sob o diagnóstico de “esquizofrênico-paranóico”, lá ele seria o paciente de número 01662.

Neste local Bispo permaneceria por mais de cinqüenta anos e em determinado momento passou a produzir objetos com diversos tipos de materiais que, após a sua descoberta, seriam classificados como arte vanguardista e comparados à obra de Marcel Duchamp. São navios (tema recorrente devido sua relação com a Marinha na juventude), estandartes, assemblages, veleiros, faixas de misses e objetos domésticos.


Destaca-se dentre todos o famoso “Manto da Apresentação”, espécie de capa que Bispo deveria vestir no dia do Juízo Final. Sua obra foi feita de sucata que recolhia dos lixos deixado por pessoas: enquanto esteve internado no hospital psiquiátrico Juliano Moreira, juntou lixo e entulho para sua produção.
Os bordados, por exemplo, eram todos feitos com uniformes e lençóis velhos desfiados.
Vale a pena conhecer.

Nenhum comentário: