sábado, 22 de agosto de 2009

O GAVIÃO.


Um jovem Araweté aprende cedo a fazer suas próprias armas e a percorrer sozinho as matas e rios, caçando e pescando. Já tem sua casa e produz seu próprio alimento. Acaba de sair do mundo infantil e começa a viver o cotidiano adulto na aldeia.

A estação seca foi mais longa este ano. As águas do igarapé Ipixuna, que passa em frente à aldeia, estão no seu nível mais baixo. O milho plantado na estação das chuvas foi colhido e distribuído entre as famílias da aldeia. Nesta época um pouco mais calma, os Arawéte passam algum tempo na floresta.

Os Arawéte conhecem bem os animais que vivem na sua região. A maioria dos filhotes trazidos para a aldeia sobrevivem e crescem sadios. As mulheres dedicam à sua alimentação uma atenção especial aos pequenos pássaros. Elas servem papa de milho mastigada, e aos mamíferos oferecem o peito.

No dia seguinte, o menino sobe numa árvore e captura um filhote de gavião-real. Afeiçoa-se a ele rapidamente, adquirindo grande intimidade com o animal. Este gavião, que os Arawéte chamam CANOHO, tem um forte valor simbólico, por ser capaz de voar muito alto, chegando próximo ao céu, onde habitam os "Mai", os deuses celestes.

De volta a aldeia com o Gavião, o menino desperta a admiração de todos. Diariamente os dois são cercados por crianças que acompanham atentamente sua alimentação. O animal cresce muito e suas poderosas garras tornam-se uma preocupação para os adultos. A preocupação era justificada, pois o gavião acaba atacando e ferindo uma criança. Felizmente os pais estavam próximos e a socorreram rapidamente.

Os adultos se reúnem e ordenam ao jovem que se desfaça do animal. Com muita tristeza, ele cumpre a ordem, soltando-o na floresta.

Na floresta o tempo passa vagarosamente, fechando todas as feridas. Os meninos correm pela aldeia e os jovens fazem suas caçadas. É numa delas que o menino vê um grande gavião adulto pousado nos galhos de uma castanheira.

Com alegria, pensa consigo mesmo se não se tratava do animal que ele havia criado. Ao fim do dia, a aldeia se reúne. Próximo a irmã, que fia algodão, o menino, sentado, observa ao longe o vôo do gavião sobre a aldeia. Compreende então todos os sentimentos de respeito e admiração que esse animal desperta.

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