segunda-feira, 29 de novembro de 2010

SENTENÇA DE 1487 - TRANCOSO, PORTUGAL.

Sentença de 1487 - Trancoso, Portugal
Arquivo Nacional da Torre do Tombo

SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO

(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço 7)

"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos. Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".
El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezessete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".
   
 A Torre do Tombo situa-se em Lisboa.
 
Fonte: II Encontro de Genealogia do Rio de Janeiro - CBG - Colégio Brasileiro de Genealogia - 27/11/2010.

domingo, 28 de novembro de 2010

A LENDA DA ERVA-MATE.

Uma tribo de índios Guarany derrubava um pedaço de mata, plantava a mandioca e o milho, mas depois de quatro ou cinco anos, a terra não produzia, e por força das circustâncias,  a tribo acabava tendo que  emigrar para outro lugar.
Cansado de tais andanças, um velho índio, já muito velho,  recusou seguir adiante e preferiu aquetar-se na tapera.
A mais jovem de suas filhas, a bela Jary ficou entre dois corações: seguir adiante, com os moços de sua tribo, ou ficar na solidão, prestando arrimo ao ancião até que a morte o levasse para a paz do Yvi-Marai.
Apesar dos rogos dos moços, Jary terminou permanecendo junto ao pai.
Essa atitude de amor mereceu uma recompensa.
Um dia chegou por aquelas paragens, um pajé desconhecido e perguntou à Jary o que  ela queria para  sentir-se feliz. A moça nada mencionou, mas o velho pai pediu: quis  ter suas  forças renovadas para poder seguir adiante e levar Jary ao encontro da tribo que tinha partido.
Entregou-lhe o pajé uma planta muito verde, perfumada de bondade, e ensinou que ele plantasse, colhesse as folhas, secasse ao fogo, triturasse, botasse os pedacinhos num porongo, acrescenta-se água quente ou fria e sorvesse essa infusão. E disse:
- Terás nessa nova bebida uma nova companhia saudável mesmo nas horas tristonhas da mais cruel solidão.
 Dada a receita partiu.
Foi assim que nasceu e cresceu a caá-mini. Dela resultou a bebida caá-y que os brancos mais tarde adotaram o nome de erva-mate, muito utilizada pelos gaúchos  no chimarrão.
Sorvendo a verde seiva o ancião retemperou-se, ganhou força e pode empreender a longa viajada até o reencontro com seus.

E a tribo toda adotou o costume de beber da verde erva, amarguentinha e gostosa que dava força e coragem e confortava amizade mesmo nas horas tristonhas da mais total solidão.

....................


O VERDADEIRO MATE GAÚCHO


Antes de tudo, limpe a cuia e a bomba com água fervente. Deixe secar.
Encha a cuia com cerca de 2/3 da erva-mate. Utilize a própria bomba de chimarrão para ajeitar a erva para um lado, inclinando a cuia. 
Faça uma proteção com uma de suas mãos abertas para que a erva não caia  fora da cuia
Deixe acumular o maior volume de erva do lado desejado, de preferência à esquerda, deixando o espaço da direita vazio ( da borda ao fundo).
Continue protegendo o maior volume de erva com a mão, despeje (devagar) um pouco de água morna ou fria, no espaço entre a erva-mate e a lateral da cuia. 
Não use água muito quente para não queimar a erva e deixá-la amarga.
Depois de colocar a água, continue apoiando  bem a erva e incline a cuia na horizontal, até que a água chegue na borda do volume da erva. Com isso, a erva-mate grudará na parede da cuia. Deixe a cuia encostada por cerca de 2 minutos até que a erva inche.
Introduza a bomba ao fundo, tamapando o bico. Depois, absorva a água que restou e cuspa fora.
Com a cuia no suporte, despeje (devagar) a água quente e comece a beber.

sábado, 27 de novembro de 2010

O GRITADOR.

O Gritador também é conhecido como “Zé-Capiongo”. Vive gritando noite a dentro.
Contam que ele é a alma de um vaqueiro que, desrespeitando a sexta-feira da Paixão, saiu a campear e nunca mais voltou. 
Sumiu misteriosamente com o cavalo, o cachorro e a rês que campeava. Virou assombração. 
Hoje vive gritando no mato, aboiando uma boiada invisível, pois ele não se conforma em ter morrido antes da hora. Embora os seus gritos sejam mais ouvidos durante a noite, o Gritador não tem hora para gritar. 
Dizem que até ao meio-dia ele clama no meio do mato, assombrando os vivos, assustando os bichos. Nas noites de sexta-feira, além do seu grito triste, são ouvidos também,  o rumor dos cascos do seu cavalo e o ladrar do seu cachorro.

Tenebroso e assustador!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

BAIANA - UM SÍMBOLO DA ANCESTRALIDADE E DA CULTURA

No dia 25 de novembro, o Pelourinho fica mais bonito, quando cerca de 400 baianas de acarajé, com seus trajes típicos, esbanjando simpatia e carisma, são as personagens principais das festividades em homenagem ao dia do símbolo tanto cantado por Caymmi e retratado por Jorge Amado e Caribé. A data é comemorada intensamente por estas mulheres que são o símbolo mais forte da cultura popular baiana, um verdadeiro “cartão-postal” da Bahia. 

O dia da baiana abre o calendário oficial de festas da cidade. A data, comemorada há 13 anos, movimenta o Centro Histórico com missa na Igreja de N. S. do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, além de manifestações culturais no Memorial das Baianas. O ponto alto da festa é a missa realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos . 

Depois da missa, tradicionalmente as baianas  seguem em cortejo para o Memorial das Baianas, localizado no Belvedere da Praça da Sé e caem no samba de roda para comemorar com muita alegria a homenagem. Não é a toa que a baiana exerce tanto fascínio sobre os turistas e os baianos. O jeito meigo e a hospitalidade que lhes são peculiares cativam qualquer um, sem falar na sua indumentária, rica em detalhes e adereços, que foi imortalizada na figura da baiana estilizada com a internacional Carmem Miranda. Baiana de verdade tem quem ter torço, bata, pano de costa, saia rodada, anágua, sandália e os adereços que incluem as contas do orixá.

As africanas vendedoras de comida foram as primeiras baianas que Salvador conheceu ainda na época da colônia. Alforriadas ou escravas de ganho, elas vendiam de porta em porta, beijus, cuzcuz, bolinhos e outras iguarias da culinária afro-baiana. Saiam impecavelmente vestidas com batas, saias brancas, torso e pano da costa, enfeitadas de colares, brincos e pulseiras (os balandangãs) e colocavam os tabuleiros equilibrados na cabeça. Até a comida mais famosa de Salvador, o acarajé, era vendida de porta em porta. 
Na sua origem, o acarajé só podia ser vendido exclusivamente pelas filhas de santo de Iansã (Santa Bárbara no sincretismo entre o Catolicismo e o Candomblé), em cumprimento à obrigação do seu Orixá, que determinava inclusive o tempo em que essa obrigação deveria ser mantida. O preparo dos bolinhos – uma massa de feijão fradinho, cebola e sal frita no azeite de dendê - era feito dentro do próprio terreiro de Candomblé, de onde a baiana saía com todos os preceitos que a situação exigia, ostentando um colar de contas vermelhas para simbolizar que era filha de Iansã. 

Há mais ou menos 50 anos, vender acarajé tornou-se um meio de vida para a população afro-descendente de Salvador, ligada ou não ao Candomblé. 

(Fonte: Nações e Cultura da cor)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A FORMAÇÃO DE UM LEITOR.

Hoje eu trago para vocês um outro tipo de história - a minha história.
Espero que gostem.
......................

Lembro-me de minha avó materna, uma analfabeta que lavava roupas para sobreviver e criar doze filhos; que ao deitar, contava-me a história dos espíritos esquecidos presos numa velha sacola de couro planejando uma vingança mortal àquele que, por egoísmo, manteve-os presos por tanto tempo. Com medo dessa tal vingança, passei a vida repassando as histórias que ouvia: primeiro para meus colegas de classe; mais tarde para meus filhos e hoje continuo recontando para alunos, vizinhos, amigos da internet e quem de mim se aproximar. 
Tornei-me uma devoradora de livros, passaria o dia citando autores, livros e artigos de minha preferência, porque desde pequena fui enredada pelas tramas das histórias, cantigas de roda e cordéis, por esse mundo sem fronteiras onde eu também pudesse fazer uma blusa amarela com três metros de entardecer e, sobretudo,  com a possibilidade de um dia vir a resgatar uma parte desse material oral que ainda circula, principalmente lá pelo norte e nordeste, onde o mito sebástico que tanto me encanta foi muito presente por ocasião da colonização.
Até bem pouco tempo, numa crise existencial, não conseguia compreender a minha função aqui neste plano, até que num belo dia, sentada numa cadeira, um ‘Estalo de Vieira’ iluminou a minha mente e me apercebi contadora de histórias. Hoje, professora de Português e Literaturas, fico triste só de pensar que aquilo que foi um alimento para mim durante os anos em que crescia, não é praxe em muitos lares no mundo contemporâneo.
Toda essa modernidade trouxe lá seus benefícios,  mas deixou as pessoas muito embrutecidas e essa ausência de sensibilidade embota os sentidos. A  educação pela arte mexe com essa oportunidade de vir a exercer esse domínio máximo das faculdades intelectuais ao buscar esse olhar diferenciado para formalizar a palavra, o traço, a cor, o som.
Precisamos depurar os nossos sentidos – isso é urgente se queremos um mundo mais justo e com menos violência. E essa depuração vem através desse objeto lírico tão maravilhoso que é a história. Como professora e sonhadora sinto-me na contramão do mundo porque quero resgatar esse algo que existe dentro de nós, que é essa humanidade que ficou perdida em meio a essa aldeia global, essa sociedade insensível e fragmentada; essa mesma sociedade que nos tirou a possibilidade de criar, pois com toda facilidade, ficamos frente a tudo pronto, sem poder agir. Isso nos deixa um enorme vazio, não cria um significado entre nós e o objeto.
Acredito num mundo melhor através do exercício da leitura, da reflexão. Pois o maior bem que podemos deixar para os nossos filhos é o afeto e uma boa educação: com amor, toda criança será confiante e segura como um rei, não se violentará para agradar os outros e será afinada com o próprio eixo. E se transformará  num adulto bem resolvido, porque a lembrança da infância terá deixado nela a dimensão da importância que ela tem.Gostaria de terminar esta reflexão que trago para vocês no dia de hoje relembrando a nossa poetisa Cecília Meireles, literatura é nutrição, é algo muito mais profundo do que um simples entretenimento, pois o alimento faz parte da nossa história biológica e o alimento quando é de qualidade vai dando ao aluno uma visão de mundo diferenciada para toda vida, tornando um adulto mais equilibrado e mais preparado para se relacionar com o mundo.

Saudações Educacionais !

Silvana G.Nunes

( professora, pesquisadora, contadora de histórias e brincante).

sábado, 20 de novembro de 2010

ZUMBI - A CONSCIÊNCIA NEGRA DA RESISTÊNCIA E DA LIBERDADE.

Vinte de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra. A data - transformada em Dia Nacional da Consciência Negra pelo Movimento Negro Unificado em 1978 - não foi escolhida ao acaso, e sim como homenagem a Zumbi, líder máximo do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência negra, assassinado em 20 de novembro de 1695.

O Quilombo dos Palmares foi fundado no ano de 1597, por cerca de 40 escravos foragidos de um engenho situado em terras pernambucanas. Em pouco tempo, a organização dos fundadores fez com que o quilombo se tornasse uma verdadeira cidade. Os negros que escapavam da lida e dos ferros não pensavam duas vezes: o destino era o tal quilombo cheio de palmeiras.

Com a chegada de mais e mais pessoas, inclusive índios e brancos foragidos, formaram-se os mocambos, que funcionavam como vilas. O mocambo do macaco, localizado na Serra da Barriga, era a sede administrativa do povo quilombola. Um negro chamado Ganga Zumba foi o primeiro rei do Quilombo dos Palmares.

Alguns anos após a sua fundação,o Quilombo dos Palmares foi invadido por uma expedição bandeirante. Muitos habitantes, inclusive crianças, foram degolados. Um recém-nascido foi levado pelos invasores e entregue como presente a Antônio Melo, um padre da vila de Recife.

O menino, batizado pelo padre com o nome de Francisco, foi criado e educado pelo religioso, que lhe ensinou a ler e escrever, além de lhe dar noções de latim, e o iniciar no estudo da Bíblia. Aos 12 anos o menino era coroinha. Entretanto, a população local não aprovava a atitude do pároco, que criava o negrinho como filho, e não como servo.

Apesar do carinho que sentia pelo seu pai adotivo, Francisco não se conformava em ser tratado de forma diferente por causa de sua cor. E sofria muito vendo seus irmãos de raça sendo humilhados e mortos nos engenhos e praças públicas. Por isso, quando completou 15 anos, o franzino Francisco fugiu e foi em busca do seu lugar de origem, o Quilombo dos Palmares.

 Após caminhar cerca de 132 quilômetros, o garoto chegou à Serra da Barriga. Como era de costume nos quilombos, recebeu uma família e um novo nome. Agora, Francisco era Zumbi. Com os conhecimentos repassados pelo padre, Zumbi logo superou seus irmãos em inteligência e coragem. Aos 17 anos tornou-se general de armas do quilombo, uma espécie de ministro de guerra nos dias de hoje.

Com a queda do rei Ganga Zumba, morto após acreditar num pacto de paz com os senhores de engenho, Zumbi assumiu o posto de rei e levou a luta pela liberdade até o final de seus dias. Com o extermínio do Quilombo dos Palmares pela expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694, Zumbi fugiu junto a outros sobreviventes do massacre para a Serra de Dois Irmãos, então terra de Pernambuco.

Contudo, em 20 de novembro de 1695 Zumbi foi traído por um de seus principais comandantes, Antônio Soares, que trocou sua liberdade pela revelação do esconderijo. Zumbi foi então torturado e capturado. Jorge Velho matou o rei Zumbi e o decapitou, levando sua cabeça até a praça do Carmo, na cidade de Recife, onde ficou exposta por anos seguidos até sua completa decomposição.

“Deus da Guerra”, “Fantasma Imortal” ou “Morto Vivo”. Seja qual for a tradução correta do nome Zumbi, o seu significado para a história do Brasil e para o movimento negro é praticamente unânime: Zumbi dos Palmares é o maior ícone da resistência negra ao escravismo e de sua luta por liberdade. Os anos foram passando, mas o sonho de Zumbi permanece e sua história é contada com orgulho pelos habitantes da região onde o negro-rei pregou a liberdade.


(Fonte: Nações e Cultura da Cor)

OGUM.

Ogum governa o ferro, a metalurgia, a guerra. É o dono dos caminhos, da tecnologia e das oportunidades de realização pessoal. 
Foi, num tempo arcaico, o orixá da agricultura, da caça e da pesca, atividades essenciais à vida dos antigos.

Para efeito de analogia, São Jorge.
.............................
Na Terra criada por Oxalá, em Ifé,  os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço.
Com o aumento da população de Ifé,  a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área da lavoura. Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido.
Do mesmo modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram, um por um,  e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio.
Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos os orixás tinham fracassado, Ogum pegou o seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os orixás, admirados,  perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum respondeu que era de ferro, um segredo recebido de Orunmilá.
Os orixás invejavam Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, como à caça e até mesmo á guerra. Por muito tempo os orixás importunaram Ogum para saber o segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só para si. Os orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca de que lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogum aceitou a proposta.
Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro. Mas, apesar de Ogum ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais nada ele era um caçador.
Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil, temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os orixás não gostavam de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogum se decepcionou com os orixás, pois quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora diziam que não era digno de governá-los.
Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da árvore de acocô e lá permaneceu.
Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram.
Todo mês de dezembro, celebram a festa de Iudê-Ogum.
Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogum.
Ogum é o senhor do ferro para sempre.

(Fonte: Prandi, Reginaldo in Mitologia dos Orixás)

Desconheço a autoria da imagem publicada acima.
OGUM IEÉ, meu pai !

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O BEM SÓ SE PAGA COM O BEM. Será ?

A onça caiu numa armadilha preparada pelos caçadores e, por mais que tentasse escapar, ficou prisioneira. Resignara-se a morer, quando viu passar um homem. Chamou-o e  pediu que a libertasse.
- Deus que me livre! - disse o transeunte. -  Se você ficar solta, vai me devorar.
A onça jurou que seria eternamente agradecida, então o pobre desatou as cordas que seguravam a tampa do alçapão e ajudou a bicha a sair da cova.
Logo que a onça se viu livre, agarrou o seu salvador por um braço, dizendo:
- Hoje você será o meu jantar !
O homem, coitado, pediu, rogou, implorou... e a onça finalmente decidiu:
- Vamos combinar uma coisa. Ouvirei a sentença de três animais. Se a maioria for favorável ao meu desejo, você não me escapa.
O pobre do sujeito não teve outro alternativa senão aceitar o desafio, e saíram juntos pela floresta adentro.
Logo encontraram um cavalo, velho, doente, abandonado.  A onça narrou o ocorrido.  O cavalo disse:

- Quando eu era moço e forte trabalhei e ajudei o homem a enriquecer e sabe qual foi a minha paga ? Largaram-me aqui para morrer, sem qualquer auxílio. É camarada onça, o Bem só se paga com o Mal.
Mais adiante depararam com o  Boi. Consultado, opinou pela razão da onça. Contou sua vida de serviços ao homem e, quando julgaba ser recompensado, soube que fora vendido para ser morto e retalhado pelo açougueiro. O Bem só se paga com o Mal.
O coitado triste, certo que viraria jantar, acompanhava a onça - que já lambia o beiço - floresta adentro. Caminharam, caminharam... e lá pelas tantas, exaustos de tanto andar, avistaram um macaco. Chamaram o tal e pediram o seu parecer. O macaco someçou a rir. E saltava, fazendo caretas e rindo.A onça ia-se zangando:
- Por que tanta risada, camarada macaco?
- Não é fazendo pouco - explicou o macaco -, é que eu não acredito que o homem caísse na armadilha que ele mesmo preparou.
- Ele não caiu. Quem caiu fui eu - esbravejava a onça.
- Ah, foi você ? Então como é que esse homem tão fraquinho pode libertar um bicho tão grande e forte como a camarada onça ?
A onça, despeitada pelo macaco julgá-la mentirosa, foi até o alçapão e saltou para o fundo do foço, gritando lá debaixo:
- Está vendo, foi assim!
Mais que depressa o macaco empurrou o engradado de varas pesadas que fazia de tampa e a onça tornou a ficar prisioneira.
- Camarada onça - sentenciou o macaco - o Bem só se paga com o Bem. Você fez o Mal, então receba o Mal.
E se foi embora com o homem, deixando a onça para morrer de fome na armadilha.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O DIA DE TODOS OS MORTOS.

O dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas que já faleceram. É um dos cultos mais antigos, presentes  em quase todas as religiões.
A princípio era ligado aos cultos agrários e de fertilidade: para os mais antigos, os mortos eram como sementes, e por isso eram enterrados com vistas à ressurreição.
O dia dos Mortos, na prática da Igreja católica,surgiu como uma ligação  suplementar entre mortos e vivos e o mundo acabou aderindo tal prática.
Desde o século 1º os cristãos rezam pelos falecidos, a princípio os mártires. No século IV  já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa. Mais foi  a partir do século XIII que o dia anual dos mortos é comemorado no dia 02 de novembro, porque no dia 1º é a "Festa de Todos os Santos".

31/10- Véspera do dia de Todas as Almas: em inglês "All Hallow's Eve"  (reduziu-se para "Halloween") - celebra  todos os que morreram  e foram condenados ao inferno ( esse dia não é reconhecido no calendário cristão ou católico)
01/11 - Dia de Todas as Almas ou Todos os Santos : celebra todos os que morreram  em estado de graça e não foram canonizados.
02/11 - Dia de Todos os Mortos ou Finados : celebra todos os que morreram.

No Rio de Janeiro, e em muitas cidades do Brasil,o dia dos mortos é objeto de uma cerimônia verdadeiramente imponente, durante a qual é impossível não se  experimentar alguma comoção. A igreja de São Francisco de Paula, também chamada de Cáritas a mais procurada entre os fiéis, pois é célebre pelos milagres atribuídos  à imagem do seu patrono, que se supõe restituir a vida aos moribundos e, também, pela espécie de proteção  que São Francisco concede aos ossos que não pode salvar. Ao entrar pela capela, passará por uma longa galeria, cujas paredes estão cobertas  de votivas e de quadros representando pessoas enfermas em seus leitos, ou indivíduos sofrendo diversos acidentes. A todos São Francisco aparece descendo do céu sobre uma nuvem. Acredita-se que se livra sempre do perigo  aqueles quem desta maneira se mostra. Nada é mais variado que estes ex-votos: pernas, braços, cabeças, seios e outras partes do corpo humano, executados em cera com espantosa veracidade.


A morte é o inevitável fim, o ponto final, a passagem desta para a outra, que não sabemos se  melhor ou  pior. É ainda o maior mistério da vida.
Muitos contos de fadas terminam como "viveram felizes para sempre". Na vida real em que para sempre não existe, o máximo que se pode almejar é ser feliz até morrer.
A morte faz parte da vida e está dentro da categoria das pouquíssimas certezas  que podemos ter. Um dia ela chega, e isso serve para todos. O que nos diferencia uns dos outros é a forma de encará-la.
Nas culturas ocidentais, a partir do século XIX há uma mudança de mentalidade influenciada pelo iluminismo. Com o avanço do individualismo, diminui-se a imposição do enterro dentro dos templos. Nascem aí os cemitérios. Mas a morte como tema literário é uma marca do período romântico.
Ao longo da civilização ocidental, a morte ainda é um dos principais tabus, é tudo pelo qual se evita falar por pudor, crença ou superstição: uma interdição de ordem cultural e social.
Por causa disso foram criadas diversas  supertições em torno da morte:

• Quando morre uma pessoa, deve-se abrir todas as portas para a alma sair. Fecham-se porém os fundos da casa. A alma deve sair pela frente. A casa não deve ser fechada antes de sete dias pois o fel (as vísceras) do defunto só se arrebentará nesse prazo. Então a alma vai para o seu lugar. A novena de defunto é para a alma ir para onde foi destinada.

• Não se deve chorar a morte de um anjinho, pois as lágrimas molharão as suas asas e ele não alcançará o céu.

• Quando numa procissão, o féretro pára defronte de alguma porta de uma casa, é isso presságio de morte de alguma pessoa dessa casa.


• Homem velho que muda de casa, morre logo.

• Acender os cigarros de três pessoas com um fósforo só, provoca a morte da terceira pessoa. Outra versão: morrerá a mais moça dos três fumantes.

• Derrubar tinta é prenúncio de morte.

• Quando várias pessoas estão conversando e param repentinamente, é que algum padre morreu.

• Perder pedra de anel é prenúncio de morte de pessoa da família.

• Quando uma pessoa vai para a mesa de operação, não deve levar nenhum objeto de ouro, pois se tal acontecer, morre na certa.


• Doente que troca de cama, morrerá na certa

• Se acontece de se ouvir o som de uma coruja, é sinal de má notícia.

• Defunto que fica com o lóbulo da orelha mole, é indício de que um seu parente o segue na morte.

• Quando o defunto fica com os olhos abertos é porque logo outro da família o seguirá.

• Não se deve trazer terra do cemitério quando se volta de um enterro, pois ela traz a morte para a casa.

E vai por aí vai ...

Ao contrário de nós e não muito longe daqui, todos os anos durante a noite do dia 1º de novembro, os nossos irmãos mexicanos têm um encontro muito importante com a morte. 
Povoados inteiros vão aos cemitérios para honrar os restos de seus finados.Levam flores, comida, doces, velas e tequila. As tumbas se vestem de festa porque nesta noite, os defuntos vêm de visita.
Os mortos revivem nas lembranças dos vivos, que evocam suas maneiras de ser, seus gostos, suas virtudes e defeitos. 
Entre as almas esperadas e os vivos, se estabelece um diálogo intenso. Mas, a celebração também é feita em muitos lares mexicanos, com o tradicional Altar dos Mortos, que é uma oferenda feita para honrar aos familiares falecidos, já que segundo a crença popular, eles visitam seus lares e suas famílias neste dia.


É uma celebração feita de forma festiva, pois leva a idéia de renovação da fertilidade. O culto aos mortos no México é uma maneira de dizer que a memória de seus seres queridos ocupa o lugar sagrado que corresponde a um altar, onde são levadas flores, adornos, doces e alimentos, cada um dos quais tem um significado especial. 
Postas junto ao altar tradicional dos santos ou na mesa principal da casa, a oferenda mostra variações regionais, ao mesmo tempo que compartilha certos elementos formais. Uma mesa ou prateleira coberta com uma toalha, preferencialmente branca com bordados que na atualidade, em algumas ocasiões foi substituído por uma toalha de plástico estampado, são a base para qualquer altar na República Mexicana. Na frente ou atrás da mesa, em algumas ocasiões se pendura flores de papel, papéis recortados, que acompanham as fotografias dos parentes que se foram, geralmente colocadas entre vários vasos de flores, especialmente as "cempoatxóchitl", conhecidas no Brasil como cravos de defunto. Na frente da mesa, sobre uma esteira nova, pode-se colocar um ou mais incensários.


Também pode integrar a oferenda alguma vestimenta ou objeto emblemático do defunto. São colocadas imagens de santos e velas para iluminar as oferendas, a comida favorita do morto é preparada e colocada no altar, geralmente em vasilhas de barro, junto com sua bebida preferida.
Caveiras de açúcar, pães especiais (pan de muerto, que tem formato de gente e é decorado com tirinhas brancas que representam ossos), frutas e doces são colocados no altar. 
Os quatro elementos, água, terra, fogo e ar, também  são representados no altar. A água vem numa pequena vasilha, presença física, para que o morto possa lavar-se após chegar do longo caminho poeirento que separa o reino dos vivos do reino dos mortos. O fogo aparece na chama das velas e a terra vem representada por seus frutos. O ar é representado pelo papel de seda (papel picado), devido a sua leveza.

A festa de mortos é uma das tradições mais enigmáticas da cultura mexicana. Mistura de antigas crenças indígenas e elementos da religiosidade católica, é, por definição, uma mostra do sincretismo que caracteriza a cultura do México.
Assim, enquanto para os europeus, a simples menção da morte é um tabu, como a recusa do pensamento pudesse evitar o acontecimento, o mexicano se familiariza com a idéia desde a mais tenra idade.


A visita anual dos mortos não é uma ocasião de luto, mas sim motivo para celebrar uma grande festa, na qual as famílias contam piadas e também choram. Nesta noite, a vida e a morte são uma só coisa. Os defuntos apenas se adiantaram no caminho que todos empreenderemos.
Assim como os astecas deviam agradar aos seus deuses do passado, os mexicanos têm de agradar seus antepassados, que esperam as oferendas, e as lembranças... 


( Fonte: Consulado Geral do México )

...........................

Bem, seja lá como for, enquanto  a morte não vem a gente se inspira e cria. 
Assim, quando ela chegar - a indesejável das gentes - é certo de que estaremos plenos  de literatura e de poesia.

Que a PAZ e o BEM estejam sempre conosco .

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A MISSA DOS MORTOS.

A Missa dos Mortos é uma das lendas mais tradicionais do Brasil.

Existe um registro muito popular de fatos dessa natureza que aconteceu na Cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, no começo do século XX, por volta de 1900, numa pequena Igreja que ficava ao lado de um cemitério, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, de Cima.
Quem presenciou uma dessas missas, foi o zelador e sacristão da Igreja. Ele chamava-se João Leite e era muito popular e querido em toda aquela região.
Conta-se que numa noite, já deitado, ele viu luzes na Igreja e pensando que fossem ladrões foi investigar. Para sua surpresa, viu que o templo estava cheio de fiéis, lustres acesos e o padre se preparando para celebrar uma missa.
Estranhou todo aquele movimento, os fiéis de roupas escuras e cabeça baixa. Ainda mais uma missa aquela hora sem que nada soubesse.
Quando o padre se voltou para dizer o "Dominus Vobiscum", ele viu que seu rosto era uma caveira. Viu que também os coroinhas eram esqueletos vestidos. Saiu apressado dali e viu a porta que dava para o cemitério escancarada. Do seu quarto, ficou ouvindo aquela missa do outro mundo até o fim.
Nomes comuns: Missa das Almas, Missa das Almas Penadas

Origem Provável: É sem dúvida originária da Europa. Em Portugal e Espanha, por volta da idade média, já se conheciam lendas com estas características. Os romanos antigos acreditavam que os fantasmas dos parentes mortos se reuniam de tempos em tempos.
Assim, eles, como também os Mouros espanhóis, celebravam a Festa dos Mortos. O objetivo era espantar os fantasmas errantes dos mortos.

Em Portugal é conhecida como "A Missa das Almas", e na Espanha como "La Misa de las Animas".

No caso brasileiro, é uma lenda muito comum em todo interior do país, embora seja citada como, primeiramente relatada em Ouro Preto, Minas Gerais, na Igreja de Nossa Senhora das Mercês de Cima.

Também em Minas Gerais, na cidade de São João Del Rei, na Matriz de N. S. do Pilar existe um relato. Nesse caso, aconteceu com uma viúva moradora do lugar. Ela teria assistido a uma dessas missas e perdeu a noção do tempo. Assim, quando o sino bateu doze vezes a meia-noite tudo desapareceu, ficando ela sozinha completamente desorientada.

De acordo com a crença de alguns, a pessoa que presencia uma dessas missas, está perto de morrer ou seria um aviso de que vai morrer alguém conhecido dela.
Outros afirmam que é um sinal de longevidade.